A existência de alterações nos padrões climáticos, provocadas pela actividade do Homem é, actualmente, um facto cientificamente comprovado. Estas alterações incluem, na generalidade, o aumento da temperatura média global, a diminuição da precipitação e o aumento da frequência de ocorrência de eventos extremos, como ondas de calor, secas intensas ou inundações. Os seus efeitos já se fazem sentir e as últimas previsões apontam para que as alterações se intensifiquem nos próximos anos, prevendo-se, também, um aumento das suas consequências.
Actualmente, tem-se procurado compreender também o papel das alterações climáticas nos habitats e espécies, sendo perceptível que verifica um efeito negativo bastante acentuado nos ambientes e recursos naturais, levando a que as alterações no clima sejam encaradas, hoje em dia, como uma das principais ameaças à biodiversidade, a par da introdução de espécies exóticas e da intervenção directa do homem nos sistemas naturais.
Deste modo, torna-se essencial incorporar nos esforços de conservação das espécies medidas que tenham em conta o potencial efeito das alterações climáticas nas populações naturais. No entanto, grande parte do conhecimento científico sobre os efeitos das mudanças do clima nas populações naturais foi obtida numa escala continental/regional e é, por isso, pouco informativo sob ponto de vista da conservação, que normalmente se processa numa escala mais local.
Os impactes das alterações climáticas variam de acordo com a localização geográfica. As planícies do Baixo Alentejo onde dominam as grandes estepes cerealíferas estão particularmente expostas a eventos de temperaturas extremas durante o verão e são áreas vulneráveis à desertificação. O ano de 2005 ficou marcado por uma seca extrema nas áreas de intervenção do projecto, e esse fenómeno poder-se-á repetir no futuro com consequências imprevisíveis para a Abetarda, Sisão, Peneireiro-das-torres e todas as outras espécies que dependem das estepes cerealíferas.
Apesar destas evidências, ainda nenhum estudo analisou os potenciais efeitos das alterações climáticas na ecologia e dinâmica das populações das aves estepárias, e quais as medidas de mitigação e adaptação mais ajustadas para lidar com esta ameaça.
A modelação e construção de diferentes cenários com base em séries temporais de dados climáticos, disponibilidade de habitat, métricas de vegetação e ecologia das espécies-alvo, permitirá fazer uma análise comparativa e identificar medidas de gestão adequadas para implementar nas áreas de alimentação e reprodução das espécies-alvo. Pretende-se também, durante o projecto, implementar e testar diferentes modelos de bebedouros e comedouros instalados para as espécies cinegéticas que possam beneficiar também a Abetarda e Sisão em períodos de escassez de recursos. Estas medidas serão finalmente compiladas num manual de boas práticas, direccionado aos agricultores e gestores de caça.
Consulte AQUI os resultados dos estudos efectuados relativamente ao impacto das alterações climáticas nas aves estepárias (apresentação powerpoint de Francisco Moreira – CEABN/ISA).